Olá mãe
Olá mãe.
Está frio aqui. Mas não vou para outro lado.
Também não sei voltar para trás. Não me ensinaste, felizmente.
Ainda tenho a espada e o escudo que me deste. Da cota de malha já pouco resta. Mas habituei-me a sentir o frio dos gumes contra o corpo.
Não tenho pressa .
Fui deixado aqui pela maré e ela sabe o que faz. Se aqui me deixou, ou mereço ou preciso de aprender algo para a próxima paragem. O tempo responder-me-à.
Sabes, a maré já me arrastou a outros lugares . Muitas vezes deixou-me lá com a pele rasgada pela turbulência. Mas assim, senti menos dor nas lutas que travei.
Lutei com Monstros, Dragões e outras figuras que julgava só existirem nos contos. Venci alguns. Outros deixaram-me marcas que nunca esquecerei. Mas não me tombaram. Porque não me ensinaste a voltar para trás. Felizmente.
Ninguém viu o sangue que derramei nos triunfos nem as lágrimas das derrotas. Nunca fiz questão de contar. Nem me interessa se alguém soube ou não. O olhar tem que estar no horizonte e não no lodo que nos tenta prender os pés.
Mas sabes mãe, está frio aqui.
Quem sabe, quando a água se for e a terra secar, conseguirei acender a fogueira um pouco, antes que tenha que partir de novo. Até lá vou pensar nos dias bons que vivi.
Se amanhã não estiver aqui, e não me vires por aí, é porque a maré foi dura demais para ser sempre correcto.
Fiz o melhor que pude. Mas não deixei de fazer. Porque não sei voltar para trás. Felizmente.
Até já.
Caraças ❤️
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