A memória e a dor

 Rasgos de memória lembram me de um tempo que não acabou. Sinto a brisa, e recordo os aromas que trazia consigo. Ao longe o mar chama. E o solo impele-me na sua direcção. Contrario o impulso e deito-me no chão num gesto brusco e impensado. Limito-me a congelar toda a dinâmica e ficar só a olhar as figuras que as nuvens desenham no céu e os riscos dos aviões que aleatoriamente me incomodam a paisagem. Acredito por momentos que a vida é feita do algodão doce que as nuvens fazem lembrar. E ali fico horas a fio a simular a perfeição, em paralelismo com a dimensão onde deixei o corpo estendido.  Quando retorno, todo o solo se mantém inalterado. Os montes as valas, o chão onde estou e o mar ao fundo a clamar, continuam lá.  Sinto o rosto queimado pelo sol e pelo vento. Mas volto leve. E com o cheiro do algodão doce gravado na memória. 

Algum equilíbrio  surge. Dura mais uns passos até tombar de novo na próxima viagem entre várias dimensões de uma mesma realidade. 

Não sei quando ficarei por lá.  Se o mar levará a melhor ou se o solo alguma vez me prenderá em raizes que desconheço. Só a inquietude vigora. E é o combustível da esperança. Cá estarei para abraçar o amanhã. Certo da sua incerteza. Confiante na sua imprevisibilidade.

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