Tear de sons

 

O som, inicialmente é um eco no vazio. Experimentei vidas, onde passei de raspão e  ouvi meias verdades. Não que tenham tentado enganar-me ou vender doutrinas erradas, que arrisco dizer que não existem. Mas sim porque todas as verdades não são mais do que isso. São metade. Metade de quem diz e metade de quem ouve. E não há duas iguais. Cada ouvinte, ao longo do canal que lhe transporta o som até ao mais profundo do seu ser, molda o estímulo recebido de acordo com as marcas da forja.
Cada palavra posta à solta, tem tantas formas quantos os ouvidos que a que a recebem. É por isso que o falar é um assunto tão delicado. Pouco importa o volume ou a nitidez. As palavras mais importantes podem ser escutadas na corneta de uma grafonola de agulha romba. Bem como a mais perfeita alocução em alta definição pode ser pobre de sentido. Cabe ao ouvido decidir.  Em torno das palavras ditas, brilha uma aura que as define e particulariza. Peças únicas, feitas de finas camadas cruzadas, num entrelaçado de fibras acumuladas ao longo do tempo no fundo da alma, onde chegam sob a forma de som. Só as mais aptas resistem á erosão do viver.
Cada uma destas malhas, é única e impossível de duplicar. A sua essência não se confunde e, curiosamente, nao se replica.  Para se replicar teriam de existir ouvintes exatamente iguais. Alimenta sim, outras malhas que se vão criando noutros fundos de alma. É aí que fica a marca. Ao de leve. Venha de um grito ou de um sussurro, só ficará o suficiente. Há palavras, ouvidas uma só vez, que se guardam até ao fim dos dias. Tal como há as que, embora sistematicamente repetidas, nunca conseguem alcançar a proeza de fibrar outros locutores.
O som, inicialmente é um eco no vazio. Com o tempo, a acústica aperfeiçoa-se e tria a frequência que nos preenche.

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