Aqui
Era já tempo de seguir. O vento que entra pelo vidro quebrado trás consigo a poeira vermelha que tinge tudo o que toca. Sem ter mais o que perder, desenho formas aleatórias na camada que se juntou sobre a mesa vazia. A incidência da luz da vela, reflectida no espelho quebrado pendurado na minha frente, torna-as completamente indecifráveis. Tão aleatórias quanto o estado de alma que experimento. Não decifro nem uma coisa nem outra.
O bater metálico do ponteiro que marca o compasso, parece abrandar quando decido parar para o ouvir. Consigo observar o seu movimento entre os sulcos quinados, de alumínio escovado que se elevam sobre o fundo preto, dividindo a circunferência em segundos. E cada salto soa a eternidade. Mas fico, mesmo que não saiba onde estou. Talvez por não saber para onde ir. Talvez queira. Já não me recordo sequer como aqui cheguei. Na verdade não é da minha conta como vim aqui parar. É o acaso que nos trás onde estamos em cada momento. De nada adianta procurar razões. A busca dos motivos, prende o olhar no passado. A excessiva expectativa no próximo sulco distrai-nos do que nos rodeia. Prefiro olhar á volta e absorver cheiros , cores e texturas que vibram á espera que não desperdice a oportunidade de os experimentar, por estar distraído com o que foi e com o que ainda não é.
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